quarta-feira, 24 de julho de 2013

"e temo, e espero, e ardo em fogo, e sou de gelo, e quero subir ao céu e caio em terra..."


Petrarca, denominado Pai do Humanismo, devotado em resgatar a antiguidade clássica ao escrever cartas ao poeta Cícero, morto 1200 anos antes de seu nascimento, além der traduzir Homero para o latim. Petrarca, Dante Alighieri, Boccaccio e intelectuais do seu tempo formaram a plataforma para o “Ressorgimento” italiano e o início da literatura humanista européia. Assim como é de Petrarca, o conceito de “Medida Nova” para a lírica italiana, em oposição à antigüidade clássica. A principal característica deste movimento é o afastamento do teocentrismo perante a visão antropocêntrica do pensamento filosófico grego. Os intelectuais defendiam um olhar racional para o mundo, enquadrando o homem como possibilitador tanto para o construir positivo como para o negativo. Poetas do novo, da construção e de transformações. Para se entender a importância da lírica de Petrarca, faz-se necessário um estudo, ainda que na superficialidade, do que representa este gênero literário através dos tempos. Embora a poesia lírica tenha seus fundamentos desde a antiguidade, sua evolução se acentua, na medida em que o homem se revela diante do mundo. Refletindo sobre este mundo e sobre si mesmo, primeiramente, nasce da luta interior para então irromper-se em forma de poesia para além dos limites do eu. A emotividade faz com que a expressão poética apresente verossimilhança, não com a realidade objetiva, mas com a consciência de si mesmo. Distancia-se da narrativa e do drama que tem como suporte o mundo exterior e objetivo. Se os poetas gregos admiravam os atletas e a pátria, e concebiam estes como objetos de suas aspirações poéticas, Petrarca concebia seu estar no mundo em si mesmo e no amor metafísico concretizado em suas canções. Amor cuja existência, ao mesmo tempo em que se limitava à existência do poeta, transcendia em seu ardor e sofrimento extremo.Francesco Petrarca deu forma, métrica e imortalizou o sofrimento pelo amor indefinível através dos convulsionados sentimentos que extraia do social e do político. Modificou a ordem do mundo em relação à lírica e a língua italiana. Compôs os sonetos que em italiano(sonnetto) significa pequena canção ou pequeno som. O soneto, que nascera sob a forma de duas oitavas na corte de Frederico de Florença, sob a ordem de Jacobo Notaro ou Jacobo Lentini se transformara em dois quartetos e dois tercetos na composição Petrarquiana.

II Seminário Nacional em Estudos da Linguagem: 06 a 08 de outubro de 2010
Diversidade, Ensino e Linguagem UNIOESTE - Cascavel / PR


Soneto 134 de Petrarca

A paz não tenho, e sem ter motivo vou à guerra: 
e temo, e espero, e ardo em fogo, e sou de gelo, 
e quero subir ao céu e caio em terra, 
e nada abraço e o universo ando a contê-lo. 
Tal é minha prisão, que não se abre, e não se encerra: 
prende-me o coração, mas sem prendê-lo, 
não me dá vida ou morte, Amor, e erra 
minha alma sob o enorme pesadelo. 
Odeio-me a mim mesmo, alguém amando,
grito sem boca ter, sem olhos vejo,
quero morrer, e a morte me apavora. 
Nutrindo-me da dor, chorando eu rio: 
igualmente não me importam a morte e vida:
eis o estado em que me encontro, Senhora, por vós.


DONNA, CHE LIETA COL PRINCIPIO NOSTRO

Senhora minha, que tão leda estais 
Coo princípio de tudo, e o mereceste 
Por essa vida santa que viveste, 
E em sédia gloriosa vos sentais, 

Ó rara e portentosa entre as demais, 
Ora, no Olhar que tudo vê celeste, 
Vê o meu amor e a pura fé que veste 
De lágrimas choradas versos tais. 

E sente um coração tão fiel na terra 
Qual o é no céu agora, e que não tende 
A mais de ti que ao Sol dos olhos teus. 

E pois, para vencer a dura guerra 
Que neste mundo só a ti me prende, 
Roga que eu vá depressa a estar nos céus. 


ITE, RIME DOLENTI, AL DURO SASSO

Oh, vai, verso dolente, à pedra dura 
Que o meu caro tesouro em terra esconde, 
E chama quem do céu inda responde, 
Se bem que o corpo esteja em tumba escura. 

Diz-lhe que vivo exausto de amargura, 
De navegar sem já saber por onde, 
Salvando apenas sua esparsa fronde 
De perder-se na morte que se apura, 

Sempre arrazoando dela, viva e morta, 
Como se viva e já feita imortal, 
Para que o mundo a reconheça e ame. 

E que lhe praza ser quem me conforta 
No instante que se apressa. Venha e, qual 
Está no céu, a si me leve e chame. 



ANIMA BELLA DA QUEL NODO SCIOLTA 

Alma tão bela desse nó já solta 
Que mais belo não sabe urdir natura, 
Tua mente volve à minha vida obscura 
Do céu à minha dor em choro envolta. 

Da falsa suspeição liberta e absolta 
Que outrora te fazia acerba e dura 
A vista em mim pousada, ora segura 
Podes fitar-me, e ouvir-me a ânsia revolta. 

Olha do Sorge a montanhosa fonte 
E verás lá aquele que entre o prado e o rio 
De recordar-te e de desgosto é insonte. 

Onde está teu albergue, onde existiu 
O amor que abandonaste. E o horizonte 
De um mundo que desprezas, torpe e frio. 



terça-feira, 23 de julho de 2013

"apenas pedem que eu os acomode em algum canto de minha humilde morada..." Petrarca


Tenho amigos cuja companhia me é extremamente agradável: são de todas as idades e vêm de todos os países. Eles se distinguiram tanto nos escritórios quanto nos campos, e obtiveram altas honrarias por seu conhecimento nas ciências. É fácil ter acesso a eles: estão sempre à disposição, e eu os admito em minha companhia, e os despeço, quando bem entendo. Nunca dão problemas, e respondem prontamente a cada pergunta que faço. Alguns me contam histórias de eras passadas, enquanto outros me revelam os segredos da natureza. Alguns, pela sua vivacidade, levam embora minhas preocupações e estimulam meu espírito, enquanto outros fortificam minha mente e me ensinam a importante lição de refrear meus desejos e de depender só de mim. Eles abrem, em resumo,  as várias avenidas de todas as artes e ciências, e eu confio em suas informações inteiramente, em todas as emergências. Em troca de todos esses serviços, apenas pedem que eu os acomode em algum canto de minha humilde morada, onde possam repousar em paz – pois esses amigos deleitam-se mais com a tranquilidade da solidão do que com os tumultos da sociedade.

Francesco Petrarca.

Salve-me, e eu te salvarei.



Francisco Petrarca (1304-1374) nasceu em Arquá, na região da Mântua. Passou a infância em Valdarno, mas transferiu-se para Pisa com a família. Em Avignon, fez seus estudos em gramática, dialética e retórica. Posteriormente, cursou direito em Bolonha e Montepelier. Com a morte do pai, tentou a vida monástica, mas logo abandonou. Numa sexta-feira santa, conheceu Laura de Novaes, musa que o inspirou durante a vida inteira. Petrarca era um grande investigador dos clássicos da literatura antiga. Por isso, foi considerado um dos primeiros grandes bibliófilos da Europa. Dedicou-se à poesia a partir de 1337. Recebeu título de poeta laureado em Roma, sucesso que alcançou ainda vivo. Foi grande sonetista e humanista, orador eloquente e um dos precursores do renascimento italiano. Petrarca escreveu mais de 300 sonetos. Das obras líricas, a mais importante é “Canzoniere e o Trionfi” (Triunfos). Dos ensaios e cartas, destaca-se o “Secretum” (Meu Livro Secreto), escrito em latim. Escreveu tratados, entre eles o “Rerum Memorandarum Libri”, que versava sobre questões de ordem moral. O “Itinerarium” (O Guia de Petrarca para a Terra Santa), tornou-se uma espécie de guia de viagem. Importante também é a “Carta para a Posteridade”, uma autobiografia. Petrarca inspirou um movimento poético, o petraquismo, o qual conseguiu muitos adeptos entre o século XV e XVII. Encontrar as riquezas dos ensinamentos dos autores clássicos nas diversas áreas do conhecimento humano e revitalizar esses conhecimentos continuando a pesquisas que esses autores começaram é a preocupação filosófica de Petrarca, que teve não somente a vontade, mas também a oportunidade e os meios de iniciar a revolução cultural conhecida como humanismo. Petrarca é tido como sendo o primeiro dos humanistas, movimento que está intimamente ligado ao Renascimento. Petrarca busca um mundo ideal que é diferente da sua realidade concreta. Ele discorda dos filósofos de sua época e procura nos antigos uma perfeição intelectual que ele não encontra no mundo que o rodeia. Sobre a possível oposição entre o humanismo e o cristianismo ele afirma que os filósofos antigos não tinham a fé cristã, mas tinham a virtude e na virtude o pensamento antigo e o cristão se encontram e não estão em contradição. Segundo ele a descrença e a irreligiosidade de sua época eram causadas pelo naturalismo do pensamento árabe que tem por base Averróis e pelo uso indiscriminado da lógica e da dialética para analisar áreas do conhecimento que não lhes são próprias. Para solucionar os problemas da fé e da religião devemos direcionar nossos estudos para a nossa própria alma, devemos nos voltar a nós mesmos, esse é um dos primeiros princípios do humanismo. O verdadeiro saber é o saber que temos de nós mesmos. De pouco adianta conhecermos a natureza das coisas e desconhecermos a natureza do homem. Petrarca considera de fundamental importância responder questões como: Por que estamos aqui? De onde viemos e para onde vamos?

biografias.net/francesco_petrarca/http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=55

sábado, 1 de junho de 2013

Uma nova visão de mundo: Humanismo.


O termo Humanismo é polissêmico, podendo ser considerado sob vários enfoques ao mesmo tempo distintos e interdependentes.  Entendido enquanto movimento literário e cultural de uma época, ele promoveu profundas transformações na sociedade europeia da época. Historicamente, o Humanismo foi um movimento intelectual italiano do final do século XIII que irradiou-se para quase toda a Europa, isto porque, após a queda de Constantinopla em 1453, muitos intelectuais gregos (professores, religiosos e artistas) refugiaram-se na Itália e começaram a difundir uma nova visão de mundo, mais antropocêntrica, indo de encontro à visão teocêntrica. O Humanismo foi a segunda Escola Literária Medieval, também conhecida como Pré-Renascimento ou Quatrocentismo, e corresponde ao período de transição da Idade Média para a Idade Clássica. Temos como marco inicial do Humanismo português a nomeação de Fernão Lopes como Guarda-Mor da Torre do Tombo em 1418.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Reis de Portugal durante a transição entre o Trovadorismo e o Humanismo medievais.










Em ordem cronológica estão:

D. Afonso III ( 1248- 1279 ) - O Bolonhês

5º Rei de Portugal

D. Afonso III era o segundo filho de D. Afonso II e de D. Urraca, e nasceu provavelmente em Coimbra em 5 de Maio de 1210. Casou inicialmente com D. Matilde, condessa de Bolonha em 1238, e o seu segundo casamento com D. Beatriz filha ilegítima de D. Afonso X - O Sábio, só foi legalizado em 1263, depois da morte de D. Matilde. Morreu a 16 de Fevereiro de 1279 e está sepultado em Alcobaça.
Como segundo filho, Afonso não deveria herdar o trono destinado a Sancho e por isso viveu em França, onde se casou com Matilde II de Bolonha em 1235, tornando-se assim conde jure uxoris de Bolonha. Todavia, em 1246, os conflitos entre Sancho II e a Igreja tornaram-se insustentáveis e o Papa Inocêncio IV ordenou a substituição do rei pelo conde de Bolonha. Afonso não ignorou a ordem papal e dirigiu-se a Portugal, onde se fez coroar rei em 1248 após o exílio e morte de Sancho II em Toledo,


 D. Dinis I (1279 - 1325) - "O Lavrador"

6º Rei de Portugal
D. Dinis era filho de D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela nasceu a 9 de Outubro de 1261. Casou com D. Isabel de Aragão. Morreu a 7 de Janeiro de 1325. Está sepultado em Odivelas, no Mosteiro de São Dinis.

Foi cognominado O Lavrador ou O Rei-Agricultor, pelo impulso que deu no reino àquela actividade, e ainda O Rei-Poeta ou O Rei-Trovador, pelas Cantigas de Amigo e de Amor que compôs, e pelo desenvolvimento da poesia trovadoresca a que se assistiu no seu reinado. Foi o primeiro rei português a assinar os seus documentos com o nome completo. Mandado educar esmeradamente pelo seu pai, presume-se que tenha sido o primeiro rei português não analfabeto.

Salvou a Ordem dos Templários em Portugal através da criação da Ordem de Cristo, que lhe herdou os bens no reino português, depois da sua extinção e apoiou os cavaleiros da Ordem de Santiago ao separarem-se do seu mestre castelhano.

O reinado de D. Dinis acentuou a predilecção por Lisboa como local de permanência da corte régia. Não existe uma capital, mas a localização de Lisboa, o seu desenvolvimento urbano, económico e mercantil vão fazendo da cidade o local mais viável para se afirmar como centro administrativo por excelência.


D.Afonso IV  ( 1325 - 1357 ) " O Bravo"

7º Rei de Portugal

Filho de D. Dinis e de D. Isabel de Aragão, D. Afonso IV nasceu em Lisboa a 8 de Fevereiro de 1291. Casou em 1309 com D. Beatriz filha de Sancho IV de Castela. Faleceu em Lisboa a 28 de Maio de 1357 e está sepultado na capela-mor da Sé de Lisboa.
Apesar de ser o único filho legítimo de seu pai, Afonso não seria, de acordo com algumas fontes, o favorito do rei D. Dinis, que preferia a companhia de D. Afonso Sanches, um dos seus bastardos (legitimado). Esta preferência deu lugar a uma rivalidade entre os dois irmãos que, algumas vezes, deu lugar a confrontos armados.
Em 1325, Afonso IV tornou-se rei e, como primeira decisão, exilou Afonso Sanches para Castela, retirando-lhe de caminho todas as terras, títulos e feudos concedidos pelo pai de ambos. O exilado não se conformou e do outro lado da fronteira orquestrou uma série de manobras políticas e militares com o fim de se tornar ele próprio rei. Depois de várias tentativas de invasão falhadas, os irmãos assinaram um tratado de paz, sob o patrocínio da Rainha Santa Isabel


D.Pedro I (1357-1367) - "O Cruel ou O Justiceiro"

8º Rei de Portugal
D. Pedro I (Coimbra, 8 de Abril de 1320 - Estremoz, 18 de Janeiro de 1367) foi o oitavo Rei de Portugal. Mereceu os cognomes de O Justiceiro (também O Cruel, O Cru ou O Vingativo), pela energia posta em vingar o assassínio de Inês de Castro, ou de O-Até-ao-Fim-do-Mundo-Apaixonado, pela afeição que dedicou àquela dama galega. Era filho do rei Afonso IV e sua mulher, a princesa Beatriz de Castela. Pedro I sucedeu a seu pai em 1357.

Pedro é conhecido pela sua relação com Inês de Castro, a aia galega da sua mulher Constança, que influenciou fortemente a política interna de Portugal no reinado de Afonso IV. Inês acabou assassinada por ordens do rei em 1355, mas isso não trouxe Pedro de volta à influência paterna.

Como rei, Pedro revelou-se um bom administrador, corajoso na defesa do país contra a influência papal (foi ele que promulgou o famoso Beneplácito Régio, que impedia a livre circulação de documentos eclesiásticos no País sem a sua autorização expressa), e justo na defesa das camadas menos favorecidas da população. Na política externa, Pedro participou ao lado de Aragão na invasão de Castela.

D. Pedro reinou durante dez anos, conseguindo ser extremamente popular, ao ponto de dizerem as gentes «que taaes dez annos nunca ouve em Purtugal como estes que reinara elRei Dom Pedro».


Fernando I - (1367-1383) "O Formoso"

9º Rei de Portugal
D. Fernando I, nono Rei de Portugal, nasceu a 31 de Outubro de 1345 em Lisboa. Era filho do rei Pedro I de Portugal pela sua mulher, a princesa Constança de Castela. Fernando sucedeu a seu pai em 1367 e faleceu tuberculoso em  22 de Outubro de 1383.

Foi cognominado O Formoso ou O Belo (pela beleza física que inúmeras fontes atestam) e, alternativamente, como O Inconsciente ou O Inconstante (devido à sua desastrosa política externa que ditou três guerras com a vizinha Castela, e até o perigo, após a sua morte, de o trono recair em mãos estrangeiras).


D. Beatriz I - ( 1383 - 1385 )

10º Rei de Portugal

Rainha de jure e de facto (era a única herdeira legítima do trono deixado vago pela morte de D. Fernando I), D. Beatriz, casada com João I de Castela, foi aclamada Rainha em grande do Reino, exercendo a regência em seu nome, durante quase dois anos, a rainha-viúva, sua mãe D. Leonor Teles de Menezes; o seu marido D. João de Castela acrescentou mesmo o senhorio dos Reinos de Portugal e Algarve aos seus títulos, e mandou cunhar moeda com as armas de Leão e Castela partidas com as de Portugal.

Contudo, desde o início do reinado, várias vilas e cidades do reino começaram-se a revoltar, temendo a perda da independência, vindo paulatinamente a engrossar o partido que se foi constituindo à roda do Mestre de Avis.


Dinastia de Aviz


  D.João I (1385-1433) - "O de Boa Memória"

11º Rei de Portugal

Filho bastardo de D. Pedro I e de uma dama galega de nome Teresa Lourenço, D. João I nasceu em Lisboa aos 11 de Abril de 1357 e faleceu na mesma cidade em 14 de Agosto de 1433. Casa-se em Fevereiro de 1387, na cidade do Porto, com D. Filipa de Lencastre filha de Jonh of Gaunt, Duque de Lencastre. D. João I foi de facto um Rei de Boa Memória. Foi pai, foi avô e deixou a filhos e filhas, assim como aos netos, casa opulenta.
À data da morte do rei D. Fernando I, sem herdeiros directos, Portugal parecia em risco de perder a independência. A rainha D. Leonor Teles de Menezes era impopular e olhada com desconfiança. Ter tornado pública a sua ligação amorosa ao nobre galego João Fernandes Andeiro, que vivia no paço, atraiu todas as críticas contra a sua pessoa e contra o conde Andeiro. Para além do mais, a sucessão do trono recaía sobre a princesa D. Beatriz, casada com o rei João I de Castela.

Com o apoio de um grupo de nobres, entre os quais Álvaro Pais e o jovem D. Nuno Álvares Pereira, e incentivado pelo descontentamento geral, o Mestre de Avis matou o conde de Andeiro no paço, a 6 de Dezembro de 1383 e iniciou o processo de obtenção da regência em nome do Infante D. João.








quinta-feira, 30 de maio de 2013

Fernão Lopes: o contador de histórias.


"Fernão Lopes procura os fatos mais essenciais e faz reviver a história, mas, embora constantemente fascine o leitor, não faz omissões conscientes de factos que devam ser conhecidos. É um feiticeiro que obriga o leitor a aceitar todas estas interpolações entre aspas e a deleitar-se e consentir nos seus conhecimentos graciosamente expressos."




Fernão Lopes, nascido por volta de 1380, foi escrivão de D. Duarte e deu início à série de cronistas do reino. Sua obra compõe-se da Crônica de D. Pedro, da Crônica de D. Fernando e da Crônica de D. João (1ª e 2ª partes). A  história ficcional de Fernão Lopes marca uma ruptura com a tradição medieval, as crônicas formam uma trilogia e obedecem, portanto, a um “plano geral” o que coloca esse cronista  em uma posição soberana como historiador, pensador e escritor e atribui uma decisiva intencionalidade a toda essa escrita. Fernão Lopes era um cronista medieval; era, pois, um compilador que ordenava cronologicamente realizando construções profundamente narrativas, isso permite pensar que ele não só relatava a vida dos reis de Portugal como também, ao fazer registro dos fatos em ordem cronológica, organizava elementos decisivos para a história de seu país. E, assim, o texto de Fernão Lopes transforma-se de pluralidade de retalhos em uma unidade bastante significativa, pois, na primeira crônica, temos indícios do que aconteceria na terceira. Desse modo, dados do passado corroboram o que acontece no futuro, com uma espécie de uso retrospectivo de profecia para que fatos da história de Portugal sejam justificados tal como futuramente aconteceria em alguns romances românticos. A construção da personalidade dos três reis, por Fernão Lopes, instituiu que os monarcas fossem vistos como símbolos e figuras de um poder que se sobrepunha a todos os outros. Já o povo, a “arraya meuda”, é apresentado por Fernão Lopes como protagonista da história, o que consiste num dos mais flagrantes traços de originalidade de sua obra. Na Crônica de D. João I, por exemplo,  o povo elege o seu rei, o Mestre de Avis, como se fosse o guardião, ou melhor, quem dava voz à vontade divina. Fernão Lopes tratava de, antes de principiar a história do reinado, demonstrar a legitimidade de uma eleição régia que não foi determinada pelo direito de sangue, mas pela vontade da população (povo, burguesia e pequena parte da nobreza). Como cronista/historiador, Fernão Lopes baseia-se nos fatos e documentos, mas, como bom contador de história que, também, era, criticava dados históricos e fontes aproximando-se, assim,  da crítica histórica do século XIX. Fernão Lopes interpreta a história por meio de sua experiência social, como afirma Teresa Amado: "Uma série de circunstâncias felizes fizeram com que Fernão Lopes não estivesse sujeito a tais limitações. Não era membro puro de nenhum grupo. De origem pequeno-burguesa, ao que tudo indica, ganhou pelas exigências da sua profissão e pelas suas próprias qualidades intelectuais, acesso ao convívio com pessoas e objetos que social e culturalmente estavam muito acima do horizonte que seu nascimento teria permitido antever. (1997, p. 25)".  Fernão Lopes, ao escrever crônicas embasadas na história, torna esse saber uma ciência auxiliar ao exercício da soberania monárquica, o que o faz ser louvado como um marco inaugural da historiografia e da prosa literária portuguesa.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Antes dos mouros...antes até da saudade que viajou além mar.


Se hoje o fator religioso é percebido como algo estranho à vida, para o homem medieval a esfera do sagrado era reconhecida, presente e encarnada nas contingências da vida quotidiana.

"Uma das principais características da Idade Média é sua intensa religiosidade, se hoje o fator religioso é percebido como algo estranho à vida, para o homem medieval a esfera do sagrado era reconhecida, presente e encarnada nas contingências da vida quotidiana. Congregados pelo irresistível apelo da religião, homens e mulheres de todas as regiões da Europa adquiriram a consciência de formar um povo único, uma entidade que pretendia espelhar e prefigurar a ordem celeste: a Cristandade, cada um, trabalhando ao longo de sua existência, tinha a certeza de colaborar numa grande obra que o ultrapassava, contribuindo com sua pequena pedra para levantar a catedral. A extraordinária capacidade que os homens da Idade Média tinham de pensar e agir em conjunto deve-se, portanto, ao fato de que o sentido da transcendência arrancava o indivíduo da sua condição particular para impulsioná-lo rumo a um ideal absoluto, tal como uma terra santa a ser libertada, uma igreja a ser construída, ou então, com obstinada candura, um herege a ser queimado vivo"



domingo, 28 de abril de 2013

Desde a Idade Média, sempre houve a tendência de se criticar a realidade e a sociedade da época.


As cantigas de escárnio caracterizam-se como sátiras sociais ou individuais. Nestas cantigas a sátira é indireta, realizada por meio de uma linguagem ambígua, repleta de zombaria e sarcasmo. Apesar de a pessoa criticada na cantiga não ser nomeada, é possível identificá-la com facilidade por conta dos elementos da sociedade que são retratados na obra poética. Temas como a covardia, traições, homossexualismo e adultério eram muito comuns nas cantigas satíricas. As  cantigas de escárnio e maldizer terminam por se 
debruçar sobre a realidade da vida, expondo as condições de vida e o pensamento do homem medieval. A sátira trovadoresca sofreu grande influência do sirventês, gênero medieval de caráter satírico que tem as suas origens na Provença, no século XII. Dentro deste tipo de cantiga, destacam-se três modalidades: o sirventês moral (que reflete sobre a decadência da sociedade da época), político (uma reflexão sobre a realidade política da época) e o sirventês pessoal (caracterizado por atacar a vida pessoal ou profissional de uma determinada figura). As cantigas satíricas costumam seguir determinadas características das cantigas 
líricas, apesar da liberdade formal ser maior. Observa-se que normalmente há a repetição do refrão após o final das estrofes. Esta repetição conduz à musicalidade das cantigas.

http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/anagrama/article/viewFile/7435/6824

D. Sancho II.


Foi rei da Primeira Dinastia e o quarto Rei de Portugal, filho de Afonso II, rei de Portugal e de Dulce, rainha de Portugal, que nasceu em Coimbra a 07 de Setembro de 1209 e morreu em Toledo a 04 de Janeiro de 1248, e está sepultado em Toledo na Catedral de Toledo, casou com Mécia.
Começou a governar em 1223 e terminou em 1248, Dom Sancho II tinha treze anos apenas quando subiu ao trono. Não lhe era fácil portanto fazer valer a sua autoridade em todo o reino, pois os grandes senhores do clero e da nobreza recusavam essa autoridade e consideravam que nas suas terras só eles próprios deviam mandar.
Adolescente e inseguro, não sabia a quem dar razão nem como impedir que os opositores começassem a matar-se uns aos outros, tal como era costume na época, os grupos em confronto trataram de enviar mensageiros a Roma com a incumbência de exporem a causa e pedirem apoio ao papa. Isto de nada serviu e o problema ficou por resolver.
Como o rei não conseguia impor a ordem, as brigas tornaram-se cada vez mais violentas e perderam o significado político. Bandos enfurecidos saqueavam igrejas, conventos, castelos, quintas, para roubarem tudo o que aí houvesse de valor. Raptavam mulheres e crianças a fim de exigirem resgate, matavam quem se lhes atravessasse no caminho.
Uma autêntica onda de loucura varreu o país. Durante algum tempo imperou a lei do mais forte. Todavia em 1244 vários elementos da nobreza, do clero e do povo decidiram recorrer de novo ao papa, e este decidiu que Dom Afonso, irmão de Dom Sancho II, deveria assumir o governo de Portugal, mas o rei continuaria a ser Dom Sancho II. Dom Afonso aceitou ser apenas “Governador e Defensor” do país enquanto o irmão fosse vivo, mas depois queria subir ao trono.
Isso só era possível se Dom Sancho II e Dona Mécia não tivessem filhos. Então Dom Afonso lembrou ao papa que eles eram primos e que tinham casado sem pedir a licença da Igreja, como era costume. O papa considerou o casamento nulo e ordenou que o rei e a rainha passassem a viver separados. Dom Sancho II reagiu muito mal tanto à nomeação do irmão como ao fato de lhe tirarem a mulher.
Instalou-se em Coimbra e dali procurou arranjar aliados para enfrentar o irmão, que entretanto desembarcara em Lisboa. Os opositores de Dom Sancho II não conseguiram vencê-lo pela força tão depressa como pretendiam. Decidiram então humilhá-lo e desacreditá-lo aos olhos de quem o apoiava, raptando-lhe a mulher. E o levaram-na para o castelo de Ourém, que pertencia à própria rainha. O rei perseguiu-os mas não conseguiu alcançá-los no caminho.
Quando chegou às portas do castelo exigiu que lhe devolvessem a mulher. Em vez de lhe obedecerem, correram-no à pedrada. Este rude golpe terá diminuído muito o rei aos olhos dos súbditos. O rei ainda tentou lutar mas, vendo que não conseguia vencer, acabou por desistir e retirou-se para Toledo. Nessa altura Dom Afonso assumiu plenamente o cargo de “Governador e Defensor do Reino”.

sábado, 6 de abril de 2013

Artistas.







Trovador
Era o poeta, quase sempre um nobre, que compunha sem preocupações financeiras.

Jogral
Chama-se o bobo da Corte, o mímico , o bailarino e as vezes também compunha.

Segrel
O trovador profissional, um andarilho.

Menestrel
O músico.

Soldadeira ou jogralesa
Moça que dançava, cantava e tocava castanholas ou pandeiro.

origens...


"Juazeiro foi para mim como um despertar, como se aqui eu tivesse acordado de um sono profundo"


Di Freitas:

Nascido Francisco Ferreira de Freitas Filho, hoje com 43 anos, Di Freitas é cearense de Fortaleza, onde estudou violoncelo e violão clássico no centro de formação de instrumentistas de cordas do SESI. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Goiás, por longos anos participou de vários festivais de música e fez cursos com vários professores brasileiros e estrangeiros (de violoncelo, e também de violão, fagote, improviso e harmonia). Atuou como músico erudito (integrou a Filarmônica de Goiás e o grupo Syntagma, de Fortaleza). Até que, há oito anos, deixou São Paulo e mudou-se para Juazeiro do Norte, onde deu novo sentido à sua existência e à sua carreira de músico. "Juazeiro foi para mim como um despertar, como se aqui eu tivesse acordado de um sono profundo", conta ele. "Há muito eu vinha buscando algo que me parecia muito distante, lá no passado... E este passado encontrei aqui – em cada esquina, em cada casa, em cada pessoa, nas formas, nas cores e principalmente no som. Esse som é ancestral, é um som cabaçal, modal, armorial, e é ele que me atrai..." Em Juazeiro do Norte, no coração do Cariri cearense, riquíssimo pólo de tradição e de renovação da cultura popular, Di Freitas começou a trabalhar como professor de música no SESC local. A ausência de recursos para a compra de instrumentos para os alunos o levou a tornar-se também luthier: passou a construir rabecas de cabaça e outros instrumentos de cordas – entre eles, violoncelo de cabaça, viola de 13 de cabaça, marimbau de cabaça e lira nordestina. Em 2002 criou a Orquestra de Rabecas SESC - Cego Oliveira, da qual é o regente e coordenador musical.

sexta-feira, 29 de março de 2013

D Afonso II.



Não foi um guerreiro nato mas deixou marcas de um inovador governo.




D. Afonso II (1185 - 1223), terceiro rei de Portugal, era filho do Rei D. Sancho I e de D. Dulce de Aragão. Nasceu em Coimbra a 23 de Abril de 1185 e morreu em 25 de Março de 1223, na mesma cidade, tendo casado com D. Urraca, infanta de Castela em 1208 da qual teve 5 filhos (D.Sancho IID. Afonso IIID.LeonorD. FernandoD. João Afonso). D. Afonso II ficou conhecido também pelos cognomes de “O gordo”, devido a ser realmente bastante gordo, e ainda por o “Crasso” ou “ Gafo” devido a uma doença parecida com a lepra que o teria afetado Os primeiros anos do seu reinado foram marcados por vários problemas com as suas irmãs. D. Sancho I, quando da sua morte, deixou em testamento às suas filhas Mafalda, Teresa e Sancha, alguns dos seus reguengos, situados no centro do país (Montemor-o-VelhoSeia e Alenquer) que, posteriormente, e apoiadas pelo Papa Inocêncio III, se recusaram a pagar impostos nos senhorios que passaram para a sua posse, contrariando assim, o próprio irmão, o rei D. Afonso II que pretendia o pagamento dos direitos régios. A situação acabou por ser foi resolvida com o confisco dos bens e o recolhimento a mosteiros das infantas. Este rei não se preocupou tanto em expandir o seu território, apesar ter reconquistado diversas cidades que os mouros tinham retomado, como por exemplo a de Alcácer do Sal, mas sim em consolidar a estrutura econômica e social do reino, e a prová-lo estão as suas leis sobre a cunhagem da moeda, a propriedade privada, e o direito civil.  quanto à parte religiosa, D. Afonso II procurou acabar com o poder clerical dentro do país, e mandou fazer as Inquirições, as Confirmações Gerais, e as Leis de Desamortização, com o objectivo de fortalecer poder régio e também de reduzir o poder do clero e da nobreza.
https://historia-geografia-portugal.wikispaces.com/D.+Afonso+II

quinta-feira, 28 de março de 2013

Porto Galiza


Socorro Lira



Nasci no ano de 1974, no sítio Silva, zona rural de Brejo do Cruz, Paraíba, Nordeste Brasileiro. Fui batizada Maria do Socorro Pereira e mais tarde fui chamada de Socorro Lira, por causa de meu pai, Zé Lira. Minha mãe se chama Benedita, e foi quem [me] formou a pessoa que sou hoje. Ela trabalhava muito e cantava enquanto trabalhava; sua cantiga preferida era o aboio, o canto dos vaqueiros. Cresci ali e além de Mãe que cantava e contava histórias lindas, eu ouvia cantoria de viola (repente) pelo rádio, ia aos forrós na casa de Dona Zefa, tocava lata acompanhando meu tio Antônio Gavião, um exímio tocador de Berimbau de Lata. Quando comecei a freqüentar a escola me interessei bastante pela leitura e a literatura de cordel me foi um grande achado. Tomei gosto pela poesia. Em Campina Grande tive contato com cinema, museus, teatro, música. Conheci pessoas muito generosas que me ajudaram a traçar os primeiros passos na música. Então, um pouco afastada do Sertão, pude voltar o olhar para minha terra e perceber como ela tem valores, como é rica! Se um dia a moeda for caráter e decência - em vez de dinheiro - a gente dali nunca mais será pobre.
Fui atrás desses poetas, dessas cantadeiras, das dançadeiras, dos tocadores, das cirandeiras e coquistas de Caiana dos Crioulos. À medida que me voltava para o meu lugar, mais longe eu via... Muito além dos limites da Paraíba; e vi o Brasil e comecei a enxergar o mundo, agora relativamente pequeno imerso no processo de globalização.

http://www.socorrolira.com.br/biografia.php

quarta-feira, 27 de março de 2013

Onde anda meu amigo??!! Ai Deus...




Cantigas medievais Galego-portuguesas





http://www.cantigas.fcsh.unl.pt/index.asp

Naninha.


Certa veiz um certo prinspe
paxonô-se prua donzela
intiada de um rei
lá do rêno de Castela
mala sorte a qui li foi
moreeno de amô pru ela
pru modi das Arma o rei
li negô intão a mão dela
umbuçado cum um velo
com o semblante ocultado
pelas porta do castelo
mindingava paxonado
té qui um dia essa princeza
desceu feito um Sarafim
ele intonce pidiu ela
que li insinasse o camin
rompe mais Naninha
mais um bucadin
vê qui o pobre cego
nun inxerga o camin
vê meu peito sua
ó siora mia
pela sina tua
triste sina é a mia
de vivê atôa
de pená assim
eu só sem Naninha
e Naninha sem mim
olha pra lagoa
tua camaria
vê o lençol qui a lua
teceu pra Naninha
nessa noite tua
tu serás só mia
junto da lagoa
ó noiva do céu
amada perdoa
sou o princ'pe teu

Elomar F. Mello

canturia.


segunda-feira, 25 de março de 2013

As distrações em dias de paz.



Ainda nos tempos de hoje, o tipo de divertimentos, sua intensidade e frequência se acham fortemente condicionados pelo nível social e pelas possibilidades materiais. Na Idade Média, essa relação era ainda mais estreita, a grande maioria das distrações tipicamente medievais eram os torneios ou os saraus onde se trovava e cantava. O povo possuía também formas de folgança e de esquecimento da labuta quotidiana; mas eram em menor número e menos requintadas. A nobreza tinha muito tempo livre, a função do nobre estava, não em trabalhar, mas em defender pelas armas. A sociedade nobre constituía assim um corpo de oficiais sempre atento à defesa coletiva, que era aliás a dos seus próprios interesses. Fazia-o com galhardia, quando necessário, mas exorbitava das suas funções, atacando muitas vezes e procurando a guerra apenas pelo prazer do combate. Entre as atividades mais queridas da nobreza e do clero, e com mais frequência praticadas, contava-se a caça. [...] Desporto aparentado era a arte de cavalgar. [...]. A nobreza não se divertia apenas cavalgando, jogando à espada ou exercitando-se noutros desportos violentos. Nem muitas vezes o tempo o permitia. Dentro de casa, nos serões de Inverno ou quando fora chovia e trovejava, o rei, o senhor, vassalos e famílias precisavam de entreter o tempo de qualquer forma. Aliás, as transformações sociais, do século XI ao século XV, foram no sentido de uma preferência cada vez maior pelas distrações pacíficas, pouco belicosas, onde a mulher podia participar e onde a aproximação entre os dois sexos se acentuava. [...]. Do século XII ao século XIV, os trovadores e os jograis desempenharam papel de relevo no âmbito dos divertimentos da nobreza. O  trovador era, em regra, um nobre que compunha o poema e, às vezes, a música para ele, que jograis e soldadeiras tocavam e cantavam. Na corte portuguesa, trovadores e jograis aumentavam desde os meados do século XIII, florescendo durante cerca de cem anos. Os jograis, músicos, saltimbancos, poetas ou atores populares, porque tudo eram um pouco, andavam de terra em terra, à maneira dos circos ambulantes, detendo-se sempre que havia público para os aplaudir e remunerar, preferindo naturalmente as residências dos grandes senhores ou os conventos abastados. [...] Na corte do rei, e certamente nos solares mais importantes, fixavam-se sempre alguns jograis, tornados sedentários pela promessa de residência e nutrição gratuitas e de emprego seguro. Deles saíram muitas vezes os bobos, mais famosos na lenda e na tradição do que documentados pela história. As trovas mais numerosas cantavam o amor, em suas formas variadas. Antepassadas longínquas das revistas de nossos dias eram as cantigas de escárnio e maldizer, que satirizavam acontecimentos, costumes e pessoas, em coplas vivas e mordazes, por vezes obscenas. É de supor que uma e outras fossem cantadas somente perante o rei, a corte ou as audiências fidalgas da província. [...] Também eram frequentes os espetáculos de danças populares, ante requintadas assistências palacianas. Contratavam--se vilões que cantavam e bailavam suas modinhas tradicionais defronte do rei, de grandes senhores ou de convidados ilustres. Todos os festejos populares se faziam à base de música e de dança. Bailava-se em roda, cantava-se, batia-se com as mãos e com os pés. A dança informava boa parte das cantigas de amigo dos séculos XIII e XIV:

"Bailemos nós já todas três, ai amigas
Sob aquestas avelaneiras floridas."

Havia danças só para mulheres ou só para os homens, havia também danças em que tomavam parte os dois sexos. Algumas cantigas falam de danças nos terreiros das igrejas, que se desenrolavam entre a juventude enquanto as mães rezavam no templo. Cantando e bailando se animavam as feiras e as romarias e se interrompiam os trabalhos campestres. Coros masculinos, em motivo único ou acompanhando um solo, haviam de se escutar por toda a província, suavizando a dureza dos mesteres, espraiando-se pelas searas, pelas debulhas e pelos pomares. Às vezes eram os próprios cânticos de igreja que o povo aproveitava para trovas laicas.[...] A descrição das múltiplas festas de raiz popular não acabaria mais. Festejavam-se, não somente os fastos do catolicismo, como também os do paganismo com cor de cerimônia cristã e até usos pagãos puros. As mais importantes festas cristãs, conhecidas em todo o País, eram as do Natal, da Páscoa, de S. João Batista, do Corpo de Deus e de Todos os Santos. Judeus e mouros tinham igualmente os seus festejos próprios. Não variavam muito dos de hoje os divertimentos costumados em tais festividades. Cerimônias religiosas (especialmente procissões), mercado ou feira, repicar de sinos, baile e cantoria, refeições colectivas, emprestavam o colorido típico habitual.  

A. H. de Oliveira Marques, A Sociedade Medieval Portuguesa

http://auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com.br/2008/07/idade-mdia-as-distraces-em-dias-de-paz.html

domingo, 24 de março de 2013

Lírica provençal







Lírica provençal


A literatura na linguagem provençal iniciou-se no século IX quando alguns padres e monges começaram a traduzir orações, hinos, contos e lendas religiosas para essa linguagem, por forma a aproximar o povo da Igreja. No entanto, foi no século XII que começou a afirmar-se a lírica provençal, com nomes como Bertrand de Born, Arnaud Daniel e Guiraut de Bornelh.  Julga-se que as origens da poesia provençal se relacionem com artistas ambulantes de classe baixa cujos espetáculos incluíam diversões com animais, cantigas e récitas/declamações. Teria sido a partir do contacto com estes espetáculos que os trovadores teriam surgido no seio da Corte, refinando e aristocratizando algumas das características destas manifestações. No contexto do lirismo provençal, o amor afirmava-se como um culto, quase uma religião. O trovador, na Corte e na literatura, comportava-se em relação à sua dama como o vassalo para com o seu senhor, prestando-lhe homenagem, servindo-a com fidelidade e combatendo por ela, se necessário. Não se tratava de uma relação sentimental a dois mas de uma aspiração em relação a um objeto inatingível. Além disso, o trovador obedecia a todo um código de comportamento, no qual se prescrevia, por exemplo, a manutenção do segredo da identidade da amada. A este ideal de amor correspondia um tipo idealizado de mulher de cabelos louros, olhar sereno, e sorriso delicado, que mais tarde reapareceria na Beatriz de Dante ou na Laura de Petrarca. De resto, todas as convenções temáticas desta poesia viriam desde então a influenciar tanto a literatura europeia como o comportamento social.Esta influência marcou em especial Portugal e a Galiza, aí se difundindo nos séculos XII e XIII e dando origem à cantiga de amor.

Como empurrado contra o mar, toda a sua história, literária e não, atesta o sentimento de busca dum caminho que só ele representa e pode representar.



Portugal ocupa especial posição geográfica no mapa da Europa. Reduzido território de menos de 90 000 km, limita-se com a Galiza ao norte, com a Espanha a leste, e com o Oceano Atlântico ao sul e a oeste. Como empurrado contra o mar, toda a sua história, literária e não, atesta o sentimento de busca dum caminho que só ele representa e pode representar. Tal condicionamento geográfico, enriquecido por exclusivas e marcantes influências étnicas e culturais (árabes, germânicas, francesas, inglesas, etc.), havia de gerar, como gerou, uma literatura com características próprias e permanentes. Diante da angústia geográfica, o escritor português opta pela fuga ou pelo apego à terra, matriz de todas as inquietudes e confidente de todas as dores, centro de inspiração e nutridora de sonhos e esperanças. A fuga dá-se para o mar, o desconhecido, fonte de riqueza algumas vezes, de males incríveis e de emoção quase sempre; ou, transcendendo a estreiteza do solo físico, para o plano metafísico, à procura de visualizar numa dimensão universal e perene a inquietação particular e egocêntrica. Assim, a Literatura Portuguesa oscila entre posições extremas, com certeza porque uma compensa a outra. Ao lirismo de raiz, por vezes carregado de pieguice e morbidez, corresponde um sentimento hipercrítico, exagerado, pronto a agredir, a ofender, a mostrar no "outro" a chaga ou a fraqueza. A sátira, não raro levando ao desbocamento e ao destempero pessoal, dialoga com o culto fetichista da sensação, do sentimento, exacerbado por atitudes de confessionalismo adolescente. Uma atitude esconde a outra, a tal ponto que na base íntima de todo satírico ou erótico se percebe logo o sentimental, o hipersensível, que defende suas tibiezas com o verniz do procedimento contrário. E vice-versa. Vem daí que seja uma literatura rica de poetas: aquela ambivalência constitui o suporte do "fingimento poético", na expressão feliz, e hoje tornada lugar-comum, de Fernando Pessoa.

http://artculturalbrasilportugal.blogspot.com.br/2010/02/introducao-literatura-portuguesa.html

Primeiro texto literário português.


Cantiga da Ribeirinha
Paio Soares de Taveirós

No mundo nom me sei parelha,
Mentre me for’ como me vai,
Ca já moiro por vos – e ai!
Mia senhor branca e vermelha
Queredes que vos retraia
Quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, dês aquel di’,ai!
Me foi a mi mui mal,
E vos, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
D’aver eu por vos guarvaia,
Pois eu, mia senhor, d’alfaia
Nunca de vos ouve nen ei
Valia d’ua correa.


livre tradução.

No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a minha continuar como vai,
porque morro por vós, e ai!
minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que vos retrate
quando vos vi sem manto!
Maldito dia! me levantei
que não vos vi feia!

E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
Tudo me foi muito mal,
e vós, filha de bom Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia,
pois eu, minha senhora, como mimo
de vós nunca recebi
algo, mesmo sem valor.


Maria Paes Ribeira.

No início do século XIII, D. Maria Paes Ribeira, de alcunha a Ribeirinha, oriunda de uma das mais nobres famílias portuguesas,foi protagonista de um grande romance de amor com D. Sancho I, Rei de Portugal, numa altura em que o concubinato era prática comum entre príncipes e nobres. Assim, a famosa Ribeirinha, que era detentora de uma quinta em Avelãs, recebeu a tríste notícia que seu amante havia falecido. Com a morte de D. Sancho I, a Ribeirinha decidiu vir para a sua quinta em Avelãs juntamente com seu irmão, Martin Paes da Ribeira. Na cola deles veio o Governador D. Gomes Lourenço, descendente de Egas Moniz - que tinha sido mordomo-mor de D. Afonso Henriques - que andando de cabeça perdida pela Ribeirinha, raptou-a e levou-a para Espanha. Os parentes da Ribeirinha, pela influência que tinham na corte, fizeram chegar o caso às mãos do Rei de Leão, que ordenou a morte de D. Gomes Lourenço. Mais tarde foi desposada, pelo fidalgo galego João Fernandes de Lima, o Bom, com quem também teve descendência.
Terá vindo a recolher-se ao Mosteiro de Grijó, onde veio a falecer com a avançada idade de mais de noventa anos.

 Maria Pais Ribeira, a célebre Ribeirinha, filha de D. Paio Moniz, teve D. Sancho I os seguintes filhos:

 D. Rodrigo Sanches, nasceu em data incerta, e morreu em 1245, no combate de Gaia; sepultado no Mosteiro de Grijó;

 D. Gil Sanches, nasceu em data incerta; faleceu em 14 de Setembro de 1236;

 D. Nuno Sanches, que morreu de tenra idade;

 D. Maior Sanches, que morreu de tenra idade;

 D. Constança Sanches, nasceu em Coimbra no ano de 1204; professou no Convento das Donas; morreu em 8 de Agosto de 1129, estando sepultada em Santa Cruz;

 D. Teresa Sanches, nasceu em data incerta; segunda mulher de D. Afonso Telo de Meneses, senhor de Albuquerque; morreu em 1230.

"Em nome de Deus, Eu Sancho, pela graça de Deus Rei de Portugal… dou e firmemente concedo aos meus filhos e filhas que tenho de D. Maria Pais, a Vila do Conde que fica situada junto à foz do rio Ave. E concedemos firmemente que a tomem como sua, por direito hereditário, para sempre. É-lhes lícito a ela, aos filhos e descendentes para fazer dela sempre o que quiserem como sua própria herança. Portanto, todo aquele que aceitar esta decisão seja abençoado por Deus, Amen. Porém aquele que a desvirtuar, seja amaldiçoado e excomungado e a ira de Deus venha sobre ele.
Lamego, mês de Julho da era de 1209.