domingo, 24 de março de 2013
Como empurrado contra o mar, toda a sua história, literária e não, atesta o sentimento de busca dum caminho que só ele representa e pode representar.
Portugal ocupa especial posição geográfica no mapa da Europa. Reduzido território de menos de 90 000 km, limita-se com a Galiza ao norte, com a Espanha a leste, e com o Oceano Atlântico ao sul e a oeste. Como empurrado contra o mar, toda a sua história, literária e não, atesta o sentimento de busca dum caminho que só ele representa e pode representar. Tal condicionamento geográfico, enriquecido por exclusivas e marcantes influências étnicas e culturais (árabes, germânicas, francesas, inglesas, etc.), havia de gerar, como gerou, uma literatura com características próprias e permanentes. Diante da angústia geográfica, o escritor português opta pela fuga ou pelo apego à terra, matriz de todas as inquietudes e confidente de todas as dores, centro de inspiração e nutridora de sonhos e esperanças. A fuga dá-se para o mar, o desconhecido, fonte de riqueza algumas vezes, de males incríveis e de emoção quase sempre; ou, transcendendo a estreiteza do solo físico, para o plano metafísico, à procura de visualizar numa dimensão universal e perene a inquietação particular e egocêntrica. Assim, a Literatura Portuguesa oscila entre posições extremas, com certeza porque uma compensa a outra. Ao lirismo de raiz, por vezes carregado de pieguice e morbidez, corresponde um sentimento hipercrítico, exagerado, pronto a agredir, a ofender, a mostrar no "outro" a chaga ou a fraqueza. A sátira, não raro levando ao desbocamento e ao destempero pessoal, dialoga com o culto fetichista da sensação, do sentimento, exacerbado por atitudes de confessionalismo adolescente. Uma atitude esconde a outra, a tal ponto que na base íntima de todo satírico ou erótico se percebe logo o sentimental, o hipersensível, que defende suas tibiezas com o verniz do procedimento contrário. E vice-versa. Vem daí que seja uma literatura rica de poetas: aquela ambivalência constitui o suporte do "fingimento poético", na expressão feliz, e hoje tornada lugar-comum, de Fernando Pessoa.
http://artculturalbrasilportugal.blogspot.com.br/2010/02/introducao-literatura-portuguesa.html
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