sexta-feira, 31 de maio de 2013

Reis de Portugal durante a transição entre o Trovadorismo e o Humanismo medievais.










Em ordem cronológica estão:

D. Afonso III ( 1248- 1279 ) - O Bolonhês

5º Rei de Portugal

D. Afonso III era o segundo filho de D. Afonso II e de D. Urraca, e nasceu provavelmente em Coimbra em 5 de Maio de 1210. Casou inicialmente com D. Matilde, condessa de Bolonha em 1238, e o seu segundo casamento com D. Beatriz filha ilegítima de D. Afonso X - O Sábio, só foi legalizado em 1263, depois da morte de D. Matilde. Morreu a 16 de Fevereiro de 1279 e está sepultado em Alcobaça.
Como segundo filho, Afonso não deveria herdar o trono destinado a Sancho e por isso viveu em França, onde se casou com Matilde II de Bolonha em 1235, tornando-se assim conde jure uxoris de Bolonha. Todavia, em 1246, os conflitos entre Sancho II e a Igreja tornaram-se insustentáveis e o Papa Inocêncio IV ordenou a substituição do rei pelo conde de Bolonha. Afonso não ignorou a ordem papal e dirigiu-se a Portugal, onde se fez coroar rei em 1248 após o exílio e morte de Sancho II em Toledo,


 D. Dinis I (1279 - 1325) - "O Lavrador"

6º Rei de Portugal
D. Dinis era filho de D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela nasceu a 9 de Outubro de 1261. Casou com D. Isabel de Aragão. Morreu a 7 de Janeiro de 1325. Está sepultado em Odivelas, no Mosteiro de São Dinis.

Foi cognominado O Lavrador ou O Rei-Agricultor, pelo impulso que deu no reino àquela actividade, e ainda O Rei-Poeta ou O Rei-Trovador, pelas Cantigas de Amigo e de Amor que compôs, e pelo desenvolvimento da poesia trovadoresca a que se assistiu no seu reinado. Foi o primeiro rei português a assinar os seus documentos com o nome completo. Mandado educar esmeradamente pelo seu pai, presume-se que tenha sido o primeiro rei português não analfabeto.

Salvou a Ordem dos Templários em Portugal através da criação da Ordem de Cristo, que lhe herdou os bens no reino português, depois da sua extinção e apoiou os cavaleiros da Ordem de Santiago ao separarem-se do seu mestre castelhano.

O reinado de D. Dinis acentuou a predilecção por Lisboa como local de permanência da corte régia. Não existe uma capital, mas a localização de Lisboa, o seu desenvolvimento urbano, económico e mercantil vão fazendo da cidade o local mais viável para se afirmar como centro administrativo por excelência.


D.Afonso IV  ( 1325 - 1357 ) " O Bravo"

7º Rei de Portugal

Filho de D. Dinis e de D. Isabel de Aragão, D. Afonso IV nasceu em Lisboa a 8 de Fevereiro de 1291. Casou em 1309 com D. Beatriz filha de Sancho IV de Castela. Faleceu em Lisboa a 28 de Maio de 1357 e está sepultado na capela-mor da Sé de Lisboa.
Apesar de ser o único filho legítimo de seu pai, Afonso não seria, de acordo com algumas fontes, o favorito do rei D. Dinis, que preferia a companhia de D. Afonso Sanches, um dos seus bastardos (legitimado). Esta preferência deu lugar a uma rivalidade entre os dois irmãos que, algumas vezes, deu lugar a confrontos armados.
Em 1325, Afonso IV tornou-se rei e, como primeira decisão, exilou Afonso Sanches para Castela, retirando-lhe de caminho todas as terras, títulos e feudos concedidos pelo pai de ambos. O exilado não se conformou e do outro lado da fronteira orquestrou uma série de manobras políticas e militares com o fim de se tornar ele próprio rei. Depois de várias tentativas de invasão falhadas, os irmãos assinaram um tratado de paz, sob o patrocínio da Rainha Santa Isabel


D.Pedro I (1357-1367) - "O Cruel ou O Justiceiro"

8º Rei de Portugal
D. Pedro I (Coimbra, 8 de Abril de 1320 - Estremoz, 18 de Janeiro de 1367) foi o oitavo Rei de Portugal. Mereceu os cognomes de O Justiceiro (também O Cruel, O Cru ou O Vingativo), pela energia posta em vingar o assassínio de Inês de Castro, ou de O-Até-ao-Fim-do-Mundo-Apaixonado, pela afeição que dedicou àquela dama galega. Era filho do rei Afonso IV e sua mulher, a princesa Beatriz de Castela. Pedro I sucedeu a seu pai em 1357.

Pedro é conhecido pela sua relação com Inês de Castro, a aia galega da sua mulher Constança, que influenciou fortemente a política interna de Portugal no reinado de Afonso IV. Inês acabou assassinada por ordens do rei em 1355, mas isso não trouxe Pedro de volta à influência paterna.

Como rei, Pedro revelou-se um bom administrador, corajoso na defesa do país contra a influência papal (foi ele que promulgou o famoso Beneplácito Régio, que impedia a livre circulação de documentos eclesiásticos no País sem a sua autorização expressa), e justo na defesa das camadas menos favorecidas da população. Na política externa, Pedro participou ao lado de Aragão na invasão de Castela.

D. Pedro reinou durante dez anos, conseguindo ser extremamente popular, ao ponto de dizerem as gentes «que taaes dez annos nunca ouve em Purtugal como estes que reinara elRei Dom Pedro».


Fernando I - (1367-1383) "O Formoso"

9º Rei de Portugal
D. Fernando I, nono Rei de Portugal, nasceu a 31 de Outubro de 1345 em Lisboa. Era filho do rei Pedro I de Portugal pela sua mulher, a princesa Constança de Castela. Fernando sucedeu a seu pai em 1367 e faleceu tuberculoso em  22 de Outubro de 1383.

Foi cognominado O Formoso ou O Belo (pela beleza física que inúmeras fontes atestam) e, alternativamente, como O Inconsciente ou O Inconstante (devido à sua desastrosa política externa que ditou três guerras com a vizinha Castela, e até o perigo, após a sua morte, de o trono recair em mãos estrangeiras).


D. Beatriz I - ( 1383 - 1385 )

10º Rei de Portugal

Rainha de jure e de facto (era a única herdeira legítima do trono deixado vago pela morte de D. Fernando I), D. Beatriz, casada com João I de Castela, foi aclamada Rainha em grande do Reino, exercendo a regência em seu nome, durante quase dois anos, a rainha-viúva, sua mãe D. Leonor Teles de Menezes; o seu marido D. João de Castela acrescentou mesmo o senhorio dos Reinos de Portugal e Algarve aos seus títulos, e mandou cunhar moeda com as armas de Leão e Castela partidas com as de Portugal.

Contudo, desde o início do reinado, várias vilas e cidades do reino começaram-se a revoltar, temendo a perda da independência, vindo paulatinamente a engrossar o partido que se foi constituindo à roda do Mestre de Avis.


Dinastia de Aviz


  D.João I (1385-1433) - "O de Boa Memória"

11º Rei de Portugal

Filho bastardo de D. Pedro I e de uma dama galega de nome Teresa Lourenço, D. João I nasceu em Lisboa aos 11 de Abril de 1357 e faleceu na mesma cidade em 14 de Agosto de 1433. Casa-se em Fevereiro de 1387, na cidade do Porto, com D. Filipa de Lencastre filha de Jonh of Gaunt, Duque de Lencastre. D. João I foi de facto um Rei de Boa Memória. Foi pai, foi avô e deixou a filhos e filhas, assim como aos netos, casa opulenta.
À data da morte do rei D. Fernando I, sem herdeiros directos, Portugal parecia em risco de perder a independência. A rainha D. Leonor Teles de Menezes era impopular e olhada com desconfiança. Ter tornado pública a sua ligação amorosa ao nobre galego João Fernandes Andeiro, que vivia no paço, atraiu todas as críticas contra a sua pessoa e contra o conde Andeiro. Para além do mais, a sucessão do trono recaía sobre a princesa D. Beatriz, casada com o rei João I de Castela.

Com o apoio de um grupo de nobres, entre os quais Álvaro Pais e o jovem D. Nuno Álvares Pereira, e incentivado pelo descontentamento geral, o Mestre de Avis matou o conde de Andeiro no paço, a 6 de Dezembro de 1383 e iniciou o processo de obtenção da regência em nome do Infante D. João.








quinta-feira, 30 de maio de 2013

Fernão Lopes: o contador de histórias.


"Fernão Lopes procura os fatos mais essenciais e faz reviver a história, mas, embora constantemente fascine o leitor, não faz omissões conscientes de factos que devam ser conhecidos. É um feiticeiro que obriga o leitor a aceitar todas estas interpolações entre aspas e a deleitar-se e consentir nos seus conhecimentos graciosamente expressos."




Fernão Lopes, nascido por volta de 1380, foi escrivão de D. Duarte e deu início à série de cronistas do reino. Sua obra compõe-se da Crônica de D. Pedro, da Crônica de D. Fernando e da Crônica de D. João (1ª e 2ª partes). A  história ficcional de Fernão Lopes marca uma ruptura com a tradição medieval, as crônicas formam uma trilogia e obedecem, portanto, a um “plano geral” o que coloca esse cronista  em uma posição soberana como historiador, pensador e escritor e atribui uma decisiva intencionalidade a toda essa escrita. Fernão Lopes era um cronista medieval; era, pois, um compilador que ordenava cronologicamente realizando construções profundamente narrativas, isso permite pensar que ele não só relatava a vida dos reis de Portugal como também, ao fazer registro dos fatos em ordem cronológica, organizava elementos decisivos para a história de seu país. E, assim, o texto de Fernão Lopes transforma-se de pluralidade de retalhos em uma unidade bastante significativa, pois, na primeira crônica, temos indícios do que aconteceria na terceira. Desse modo, dados do passado corroboram o que acontece no futuro, com uma espécie de uso retrospectivo de profecia para que fatos da história de Portugal sejam justificados tal como futuramente aconteceria em alguns romances românticos. A construção da personalidade dos três reis, por Fernão Lopes, instituiu que os monarcas fossem vistos como símbolos e figuras de um poder que se sobrepunha a todos os outros. Já o povo, a “arraya meuda”, é apresentado por Fernão Lopes como protagonista da história, o que consiste num dos mais flagrantes traços de originalidade de sua obra. Na Crônica de D. João I, por exemplo,  o povo elege o seu rei, o Mestre de Avis, como se fosse o guardião, ou melhor, quem dava voz à vontade divina. Fernão Lopes tratava de, antes de principiar a história do reinado, demonstrar a legitimidade de uma eleição régia que não foi determinada pelo direito de sangue, mas pela vontade da população (povo, burguesia e pequena parte da nobreza). Como cronista/historiador, Fernão Lopes baseia-se nos fatos e documentos, mas, como bom contador de história que, também, era, criticava dados históricos e fontes aproximando-se, assim,  da crítica histórica do século XIX. Fernão Lopes interpreta a história por meio de sua experiência social, como afirma Teresa Amado: "Uma série de circunstâncias felizes fizeram com que Fernão Lopes não estivesse sujeito a tais limitações. Não era membro puro de nenhum grupo. De origem pequeno-burguesa, ao que tudo indica, ganhou pelas exigências da sua profissão e pelas suas próprias qualidades intelectuais, acesso ao convívio com pessoas e objetos que social e culturalmente estavam muito acima do horizonte que seu nascimento teria permitido antever. (1997, p. 25)".  Fernão Lopes, ao escrever crônicas embasadas na história, torna esse saber uma ciência auxiliar ao exercício da soberania monárquica, o que o faz ser louvado como um marco inaugural da historiografia e da prosa literária portuguesa.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Antes dos mouros...antes até da saudade que viajou além mar.


Se hoje o fator religioso é percebido como algo estranho à vida, para o homem medieval a esfera do sagrado era reconhecida, presente e encarnada nas contingências da vida quotidiana.

"Uma das principais características da Idade Média é sua intensa religiosidade, se hoje o fator religioso é percebido como algo estranho à vida, para o homem medieval a esfera do sagrado era reconhecida, presente e encarnada nas contingências da vida quotidiana. Congregados pelo irresistível apelo da religião, homens e mulheres de todas as regiões da Europa adquiriram a consciência de formar um povo único, uma entidade que pretendia espelhar e prefigurar a ordem celeste: a Cristandade, cada um, trabalhando ao longo de sua existência, tinha a certeza de colaborar numa grande obra que o ultrapassava, contribuindo com sua pequena pedra para levantar a catedral. A extraordinária capacidade que os homens da Idade Média tinham de pensar e agir em conjunto deve-se, portanto, ao fato de que o sentido da transcendência arrancava o indivíduo da sua condição particular para impulsioná-lo rumo a um ideal absoluto, tal como uma terra santa a ser libertada, uma igreja a ser construída, ou então, com obstinada candura, um herege a ser queimado vivo"